terça-feira, 11 de agosto de 2009

FREI TITO E A SUBVERSÃO COMO ESTRATÉGIA PARA DEMOCRACIA

O Brasil democrático não deixou passar em branco o dia de ontem, 10 de agosto, quando se completaram 35 anos da morte de um dos maiores exemplos de luta pelos direitos humanos no Brasil, o cearense Frei Tito de Alencar Lima, OP.

A Escola Dominicana de Teologia, sediada em São Paulo, homenageou o religioso com o Colóquio “Homenagem a Frei Tito - 35 anos depois”; antes, cerca de 100 pessoas estiveram presentes na celebração eucarística e na abertura do simpósio. No final do dia, uma mesa redonda debateu o tema “Memória do cárcere no tempo da repressão”.


Em depoimento, Frei Oswaldo Rezende, diretor da Escola Dominicana, disse que Frei Tito foi símbolo de denúncia da cruel e desumana tortura que os presos políticos sofriam nas mãos dos militares do país, durante a repressão: “Através dele, o mundo ficou sabendo o que acontecia nas masmorras da ditadura brasileira”.

Hoje (11), está previsto o painel “Frei Tito e a memória nacional”, com a presença de Frei Oswaldo e também Frei Betto, companheiro de luta de Frei Tito. O mundo político também está presente: no encerramento do evento, Paulo Vanucchi, ministro da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República, fará palestra sobre “Frei Tito e os direitos humanos no Brasil”.

Sua terra natal, Fortaleza, o homenageia criando a Semana de Direitos Humanos Frei Tito de Alencar na rede municipal de ensino. O presidente da Câmara Municipal de Fortaleza, vereador Salmito Filho (PT), promulgou ontem a Semana Frei Tito de Alencar em todas as escolas do município.

A Semana prevê debates e atividades sobre os direitos da pessoa humana, a serem desenvolvidos na semana do dia 10 de agosto. “É um reconhecimento da conquista pedagógica, que cultivará nas crianças o papel de cidadania” - destacou Salmito Filho, que contou à Câmara relatos do pai sobre a época da ditadura, quando o frade dominicano foi hóspede em sua casa. “É importante que a novas gerações tenham consciência do que foi aquele momento, para que se possa construir uma cidade cada vez mais democrática” - evidenciou.

Após a aprovação, foi apresentado o filme “Batismo de Sangue”, de Helvécio Ratton, que relata a participação dos dominicanos na resistência à ditadura militar e o martírio de Frei Tito. O sobrinho de Frei Tito, Carlos Alencar Lima, participou da sessão, representando toda a família do religioso.

Quem foi Frei Tito

O cearense Tito de Alencar Lima ingressou ainda jovem em manifestos políticos. Aos 18anos de idade, já era destaque da Juventude Estudantil Católica; aos 19 anos participava de manifestações estudantis contra a ditadura militar. Em 1968, aos 23 anos, foi preso pela primeira vez durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, SP. Fichado pela polícia, tornou-se alvo de perseguição da repressão militar.

No ano seguinte, juntamente com outros religiosos como Frei Betto, foi torturado durante três dias, continuamente. Nos porões da chamada “Operação Bandeirantes”, escreveu sobre a sua tortura e o documento correu pelo mundo. Em 1971, foi deportado para o Chile e, sob a ameaça de ser novamente preso, fugiu para a Itália. De Roma, foi para Paris, onde recebeu apoio dos dominicanos.

Traumatizado pela tortura que sofreu, Frei Tito submeteu-se a um tratamento psiquiátrico. Seu estado era instável, vivia uma agoniada alternância entre prisão e liberdade diante do passado. Via o espectro de seus algozes em todos os lugares. As torturas lhe cindiram a alma.

Sem jamais ter recuperado sua harmonia interior, em 10 de agosto de 1974. Frei Tito foi encontrado suspenso por uma corda, sob uma árvore, no jardim do convento de Lyon.



Foi enterrado no cemitério dominicano Sainte Marie de La Tourette, em Éveux. Em março de 1983, os restos mortais de Frei Tito chegaram ao Brasil. Mas, antes de ir para Fortaleza, passou por São Paulo quando foi celebrada uma missa, acompanhada por mais de quatro mil pessoas, com a participação dos bispos e por um grupo de sacerdotes, mais o arcebispo, Cardeal Paulo Evaristo Arns e demais lideranças sociais, repudiando a tragédia da tortura. A missa foi celebrada em trajes vermelhos, que é a cor usada em celebrações dos mártires.
(CM)

Fonte: São Paulo/Fortaleza, 11 ago (RV)

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