terça-feira, 4 de agosto de 2009

NÓS, OS COARIENSES



Eloym Assunção

Ao completarmos 77 anos vivemos mais um momento de incerteza e instabilidade, mas também de esperança. A data comemorada hoje é referente à elevação de Coari à categoria de cidade em 1932, mas nossa história é bem maior que os poucos mais de sete dezenas comemoradas.

Possuímos uma história milenar, somos a terra que pertenceu aos Omáguas, Cambebas, Catauixis, Irijus, Jumas, Jurimauas, fomos a província de Machiparo, que fascinou Orellana.

Nossos primeiros habitantes tinham como uma de suas principais características a resistência, e assim foi contra espanhóis, portugueses, bandeirantes brasileiros.

Fomos alvo de uma guerra dita “justa”, que num primeiro momento visava a apropriação e posse da região e por conseqüência suas riquezas, que foram as chamadas “drogas de sertão”, que eram vendidas como especiarias na Europa, num outro momento foram os próprios nativos que passaram ser visto como mercadorias e passaram a ser caçados e escravizados para servir como mão- de- obra para a coroa portuguesa.

Este processo desestruturou as sociedades complexas existentes, como as províncias de Aparia, Arimocoa e a própria Machiparo. Todas essas viviam em um alto grau de desenvolvimento, possuíam uma estrutura social diversificada, uma agricultura auto-suficiente, além de hábitos, costumes e religiões autóctones.

O conflito com diversos invasores fez com que os nativos fossem obrigados a abandonar seus antigos lares, hábitos e costumes, era preciso fugir e se esconder, e atacar sempre que possível os inimigos que estavam mais bem preparados belicamente.


Isto não quer disser, que os nativos utilizavam somente a guerra para se defender, quando se sentiam acuados, apelavam para a política, realizando acordos jurídicos e tratados de trégua e de convivência pacífica. No entanto, ao se sentirem mais fortes voltavam à beligerância.

O descumprimento dos acordos pelos nativos irritava profundamente os invasores, que passaram a adotar táticas diferentes, a persuasão religiosa foi uma delas. Jesuítas, franciscanos, capuchinhos, beneditinos foram algumas das ordens religiosas determinantes para a configuração do mosaico geográfico atual da Amazônia.

E é graças a um Jesuíta o Padre Samuel Fritz, que funda em meados do século XVIII, o primeiro núcleo de povoamento, uma missão religiosa habitada a princípio por índios convertidos ao cristianismo.

Em 1759 a aldeia foi elevada a lugar com o nome de Alvelos. No ano de 1833, foi elevada à Vila de Coari. Em 1874, foi criado o município de Coari. Somente em 1932, Coari é elevada à categoria de cidade.

Nos últimos 77 anos fomos atores sociais dos diversos momentos históricos de nosso Estado e país, nascemos como cidade com a nova república de Getúlio Vargas, vimos a participação de vários brasileiros enfrentando novamente os seringais como soldados da borracha, encaramos e vencemos a ditadura militar.

Travamos uma guerra biológica contra a Sigatoca Negra que dizimou nossas plantações de bananas, nosso principal produto até meados do anos 1990, suportamos três grandes enchentes, 1953, 1999 e 2009 e a maior vazante dos últimos 100 anos, 2005.


Ganhamos uma nova província, a de Urucu, palco da exploração do Petróleo e Gás Natural, assim como nossa antiga Machiparo esta nova Província também encantou estrangeiros e aguçou a cobiça e a ganância.

Fomos alvos novamente de uma nova expropriação de nossas riquezas naturais, nossos governantes mancharam o nome de nossa terra. Passamos a ser conhecido em outras partes do estado como a “terra das malas”, a política em Coari virou sinônimo de escândalos e corrupção e prostituição.

Mas nossa gente é mais que isso, estamos mais vivos, ainda sorrimos, buscamos a felicidade constantemente, somo uma terra de teimosos, teimamos contra aqueles que querem tolir nossa liberdade, dominar nosso espírito, decidir nossos destinos, retirar nossas esperanças. Somos herdeiros dos Omáguas.

Somos mais que terra, água, Petróleo, Gás e coordenadas geográficas, somos mais que o concreto e o cimento, somos mais que uma cidade, somos um sentimento.

E esse sentimento é que nos aperta o peito, quando estamos longe, seja em Manaus. Maceió, Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, Porto alegre, ou mesmo outros países como: Holanda, Alemanha, Canadá, Estados Unidos, Bolívia.

Onde quer que estejamos, esse sentimento de pertencimento nos acompanha, talvez muitos não morem mais aqui, pelos mais diversos motivos, mais Coari mora em vocês que mesmo tão distante, sofrem e se alegram com as noticias deste povo. Quem em breve possamos viver dias melhores.

Parabéns a todos os Coarienses estejam aqui conosco ou não, que jamais possamos esquecer quem somos.


Fonte: Blog Crônicas de Coari

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