sexta-feira, 28 de agosto de 2009

O CABARÉ DAS LAJES E O LENDÁRIO TANAJURA

Ademir Ramos*

É sabido por todos que o mais chula dos cabarés tem regras e que sua forma preserva um ideal moral pautado na política do compadrio e do fisiologismo político mediado por proxenetas e rufiões.

Falo do comportamento da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável (SDS) ungida pelo espírito truculento do lendário Tanajura, obrigando a presidência do Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM) realizar no dia 22 passado, Audiência Pública para que a comunidade da Colônia Antonio Aleixo se manifestasse no processo de licenciamento do Estudo de Impacto Ambiental e seu respectivo Relatório referente à construção do Terminal Portuário da empresa Lajes Logística S/A, contrariando a racionalidade do processo do Ministério Público do Estado do Amazonas.


O cenário montado, os músicos postos e o pau cantando no salão da quadra esportiva da Colônia Antonio Aleixo, na Zona Leste de Manaus, sob a regência do Governo do Amazonas, em total desacordo ao interesse público defendido pelos Comunitários do Aleixo e salvaguardado pelo Ministério Público Estadual e pelo Ministério Público Federal.


O Cabaré das Lajes sob a gerencia do IPAAM convidou para manhã de sol apelidada de Audiência Pública, a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) e outros ilustres colarinhos brancos da Zona Portuária de Manaus, na esperança de referendar o desrespeito às leis e ao bom senso, o que tanto falta aos agentes do Governo do Estado do Amazonas, quando se trata da construção de um Terminal Portuário nas imediações do monumental Encontro das Águas e seu complexo ecossistema formador do magnífico Rio Amazonas.

A SUFRAMA ilustre convidada se comportou de acordo com os bons costumes quando soube que o IPAAM havia violentado os princípios do ordenamento jurídico regulador do Cabaré, valendo-se de nota da pelegagem publicada na imprensa local, em favor da volúpia capital das Lajes, empresa controlada pela Log-In Intermodal S/A, representando interesses da mineradora Vale do Rio Doce, no Amazonas.

As discussões de salão ficaram por conta dos “doutos” de canudo da Empresa Liga Consultores S/A, uma forma de cassino agregado aos negócios do Cabaré das Lajes, chefiado pelos professores Alexandre Rivas e Carlos Edvar, que também emprestaram seus canudos para justificarem outros empreendimentos sob suspeitas do porte da BR 319 e o do Gasoduto Coari Manaus.


No salão, os “Leões de Chácaras” das Lajes fardados com a camisa do empreendimento pressionam os clientes do Cabaré a dançarem alegremente ao ritmo da orquestra Braga & Cia., quando de repente aparece à luz do dia a dama de vermelho de chapéu e todos acessórios, combinando com sua estampa torneada pela forma impositiva dos modelitos usuais dos cassinos de Atlanta. Era a ex-deputada Betty Sueli, “a caba eleitoral do Gilberto Mestrinho”, explica um dos fornecedores da casa.

A presença da ex-deputada decorre das negociatas que rolaram nos bastidores do salão para se “ganhar no grito” a aprovação da obra, que nesse momento reclama do IPAAM a licença do empreendimento acertada na roleta do Cassino em terras além mar. Depois da defesa da colunável deputada, em favor da obra, adentra ao salão, o elegante e “quase lindo”, Isaque Dantas, que formalizou junto à mesa os protestos dos comunitários da Colônia Antonio Aleixo, denunciando a farsa das polacas oficiais que resolveram convocar Audiência Pública sem referendo do Ministério Público e, principalmente, dos moradores do entorno do pretendido empreendimento.

O rala-bucho esquenta no salão e os proxenetas e fisiologista do trenzinho do Tanajura batem em retirada, prometendo realizar a próxima Audiência em terras do Careiro da Várzea, o que não ocorreu por força da Liminar requerida pelo Ministério Público do Amazonas com aval do Ministério Público Federal.


O Cabaré das Lajes cerrou suas portas por força de uma Ordem Judicial, expressão do Estado Democrático de Direito, que tem por fim a proteção de um direito em razão da provável veracidade dos fundamentos invocados por uma das partes e da possibilidade de ocorrer dano irreparável em decorrência do atraso de uma determinada decisão. Em suma, conceitualmente, a Liminar é uma providencia jurídica para aplacar a arrogância e a prepotência dos mandatários, que aliados com o submundo do crime pretendem se apropriar da coisa pública.

Por enquanto, o Cabaré das Lajes está fechado, mas o lendário Tanajura tudo fará para reabri-lo em grande estilo. No entanto, valendo-se da força do Direito e da retidão dos Magistrados, o povo do Amazonas ainda resistirá às façanhas dos proxenetas, garantindo a vitalidade e a beleza do nosso cartão postal que é o Encontro das Águas.

Para isso, convoca-se os militantes do S.O.S Encontro das Águas para uma reunião na Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), em Manaus, no dia 28 às 14h30, com o movimento etnoambiental do norte do Brasil com objetivo de se definir amplas estratégias de pressão junto aos Ministérios do Meio Ambiente, do Transporte e da Cultura. A convocação é feita pela Frente de Entidades em Defesa da Vida em Rondônia, da Campanha Popular Viva o Rio Madeira Vivo, sob articulação de Iremar Antonio Ferreira. O contato pode ser feito pelo telefone 3621-7501 da COIAB de Manaus.

*Professor da UFAM, Antropólogo e Coordenador no NCPAM

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