segunda-feira, 17 de agosto de 2009

A RESISTÊNCIA DOS COMUNTÁRIOS CONTRA A IRRESPONSABILIDADE DA LOG-IN



Ademir Ramos*

A formação escolar do empresariado brasileiro é uma das mais baixas da América Latina, com ressalvas. Mas, este é um dos indicadores sociais que pesa contra o perfil desses profissionais nas rodadas de negócios internacionais porque são tidos como truculentos e imediatistas capazes de violar os mínimos preceitos morais em favor dos interesses de mercado.

O quadro torna-se mais complexo quando esse comportamento privado integra-se aos interesses partidários ou governamentais, reduzindo os valores éticos ao jogo das chantagens e da corrupção política. Assim, ouve-se falar na ponta da linha que isso é assim mesmo, “quem for podre que se quebre”.

No entanto, os fatos mais recentes no Brasil têm comprovado que “os donos do poder” têm os pés de barro e tombam como ninguém frente à verdade dos fatos, basta somente que a mídia destampe o esgoto em que vivem esses ratos bípedes para começarem a mentir, responsabilizando profissionais servidores do Estado ou terceiros transformados em “laranjas” pelas falcatruas que fizeram e fazem no mercado, batendo em retiradas como ave de arribação.

Pela força da grana e do vício partem do princípio que todo o homem tem preço e por isso adotam comportamentos agressivos frente a qualquer conduta profissional que contrarie seus interesses privados. Tornam-se, deste modo, embrutecidos e passam acreditar que com o apoio político dos governantes tudo podem nada é capaz de “pegar contra eles”, porque compram os homens para usufruir o direito.

Vocês podem pensar que estou tecendo a trama da oligarquia de José Sarney, no Congresso Nacional, ledo engano, estou me reportando ao jogo pesado que a empresa Log-In Logística Intermodal S/A instituiu no Amazonas, visando à construção do Terminal Portuário das Lajes nas imediações do nosso Encontro das Águas do Rio Negro com o Solimões, onde inicia o majestoso Rio Amazonas em terras brasileiras.

A empresa valeu-se de todos expedientes para garantir a aprovação do Estudo de Impacto Ambiental com o seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). Todos... bem, quase todos porque, segundo um dos seus interlocutores, “aqui eles se vendem barato, morrem pela boca”. Mesmo assim, não conseguiram comprar todos os homens e mulheres envolvidos no processo para imperar a vontade predadora de destruir o complexo ecossistema do Encontro das Águas, berçário dos nossos jaraquis, matrinxãs e outras espécies endógenas, que muito sabor traz a culinária amazônica.

Para completar, os executivos da Log-In Intermodal resolveram manipular as informações levantadas pelo EIA/RIMA referente às lideranças comunitárias e decidiram atacar na criação e nas eleições da Associação dos Moradores da Colônia Antonio Aleixo com firme propósito de comprar o aceite e aprovação desses, em favor da construção do Terminal Portuário das Lajes.

As eleições se deram no domingo (16), das 8h às 17h e o resultado, como diria o Senador Artur Neto (PSDB), foi uma surra nos candidatos bancados pela empresa Log-In Intermodal representada no Amazonas por uma controlada chamada Lajes Logística S/A.
O eleito presidente da Associação dos Moradores da Colônia Antonio Aleixo é um dos militantes do movimento S.O.S Encontro das Águas, Isaque de Souza Dantas, encabeçando a chapa 3, com o seguinte slogan: “Nessa eu Confio”, a diferença de votos em relação às duas outras chapas concorrentes – “Unidos por um futuro melhor” e “Renovação” foi mais de 800 votos.

As eleições da Associação dos Moradores da Colônia Antonio Aleixo, zona leste de Manaus, ganharam relevância porque é nesse território que a Log-In Intermodal pretende construir o Terminal Portuário das Lajes, que o Movimento S.O.S Encontro das Águas é contra, mobilizando forças para barrar esse empreendimento situado nas imediações das Lajes e do nosso cartão postal que é o Encontro das Águas.

Ainda mais, porque a Audiência Pública para se avaliar o EIA/RIMA da construção do Porto está marcada para o próximo sábado (22), na praça principal da Colônia Antonio Aleixo. A vitória do líder comunitário, Isaque Dantas, da chapa 3 - “Nessa eu Confio” é uma plena manifestação contrária dos comunitários contra a construção do Terminal Portuário das Lajes na zona leste de Manaus.

A resistência dos moradores da Zona Leste aliada com o Movimento Social é a certeza que temos para fortificar as barreiras contra o jogo duro instituído pela Log –In e sua corporação, dando um basta na irresponsabilidade ambiental corporativa, na perspectiva de se garantir para todos (as) a Amazônia viva, verdejante com sua fauna e flora exuberante.

Saiba Tudo Sobre o Porto das Lajes aqui.

*Professor e coordenador do Núcleo de Cultura Política da Universidade Federal do Amazonas (NCPAM/UFAM) e membro do Movimento S.O.S Encontro das Águas.

Um comentário:

Leitor disse...

O comentário no blog do Hollanda referente ao artigo do professor ademir ramos:

LUIZ CASTRO - COMISSÃO DE MEIO AMBIENTE DA ALE-AM escreveu em 17/8/2009, às 10:48:

Caro Holanda.

A discussão sobre a construção de um novo porto em Manaus num local que é o maior referencial natural de Manaus e do estado do Amazonas, a região do Encontro das Águas , no chamado Porto das Lajes, tem uma importância fundamental para o tipo de desenvolvimento que pretendemos para o Amazonas. O mundo todo defende uma mudança de paradigmas, mas parece que em no nosso estado nos contentamos com a mídia ambiental, alguns projetos pontuais e novas leis que ainda não estão sendo devidamente efetivadas.
Construir um porto no local que abriga o que se convencionou chamar de "mais belo e importante cartão postal de Manaus" equivale à comprometer não apenas a paisagem, mas o ecossistema especial que representa justamente esse magnífico e raro espaço geográfico onde as águas dos dois maiores rios da Amazônia se encontram. De um lado, a incongruência de comprometer um patrimônio natural de enorme potencial turístico, que é o próprio Encontro das Águas; de outro, colocar em risco uma região ecossistêmica de relevante interesse ecológico e científico, peculiar, especialíssima, que precisa ser melhor estudada, conhecida, antes de que se permita sua invasiva e arriscada exploração, com um porto e embarcações de grande porte.
Além disso, também preocupa a forma como se pretende impôr o empreendimento naquele exato lugar, à revelia da manifesta vontade da maioria absoluta da comunidade local que, aliás, acaba de eleger como novo presidente da Associação Comunitária do Bairro, um dos mais destacados líderes do movimento que se opõe à construção da referida obra no Porto das lajes, o jovem e determinado Isaque Dantas.
Se tudo isso não fosse suficiente para uma melhor reflexão e a busca de outras alternativas para a localização de um novo porto,ainda temos o fato de que o novo EIA-RIMA ( que, aliás, deveria ser uma complementação/retificação do anterior) apresentado pela empresa, continua repleto de contradições, omissões, lacunas e incongruências. Digo isso porque solicitei aos técnicos da Comissão de Meio Ambiente da ALE que fizessem um estudo desse documento e apresentassem um parecer técnico. E, a conclusão desse parecer, que eu próprio ratifico, é a de que o novo EIA-RIMA não responde às indagações e questionamentos feitos por ocasião da Audiência Pública na Colônia Antônio Aleixo e, principalmente, é inconclusivo quanto aos possíveis prejuízos sócio-ambientais e suas mitigações.
Trata-se, portanto, de algo emblemático, realmente decisivo para que, de uma vez por todas, passemos do discurso à prática.
Estou encaminhando esta semana ao Ministério Público Estadual, ao IPAAM, à SEMMA, o Parecer Técnico da Comissão de Meio Ambiente da ALE-AM, para as devidas considerações e providências correlatas.Também estarei encaminhando essas mesmas preocupações à entidades e lideranças estaduais, nacionais e internacionais que atuam na defesa do meio ambiente. Da mesma forma, a reinteração de nossa Indicação ao Ministério da Cultura, para o efetivo tombamento de toda a área das Lajes, incluso o Encontro das Águas, como Bem Cultural Nacional.
Por fim, é preciso que o Governo do Estado, por meio de sua Secretaria de Planejamento e da Secretaria de Desenvolvimento Sustentável, promova um estudo de alternativas de local de implantação de um novo porto, que compatibilize interesses econômicos e ecológicos, obedecendo à uma motivação que seja convergente e respaldada no bom senso.