sexta-feira, 28 de agosto de 2009

RORAIMEIRA, UMA EXPRESSÃO AMAZÔNICA



Luiz Valério


O
movimento Roraimeira foi um dos momentos mais pulsantes da cultura roraimense. Diria mesmo que foi quando se instituiu uma identidade cultural para Roraima a partir dos seus valores indígenas, ambientais e sociais. Aliás, foi para cantar e encantar (com) as belezas e riquezas da cultura local que Eliakim Rufino, Neuber Uchôa e Zeca Preto se uniram em 1984 – eu tinha apenas dez anos e sequer imaginava vir um dia morar em Roraima – para fazer surgir um dos mais vigorosos movimentos culturais das últimas décadas.


Ontem fiquei conhecendo um pouco mais sobre o Roraimeira, sobre sua gênese, a partir do depoimento de Eliakim Rufino para estudantes de jornalismo de uma faculdade local. Fui participar de uma aula temática sobre o Roraimeira a convite da minha amiga Cyneida Correia, professora e jornalista. Os cérebros que pensaram o Roraimeira foram beber na fonte do Movimento Modernista, deflagrado com a Semana de Arte Moderna de 1922, e do Tropicalismo, cujas principais referências são Caetano Veloso e Gilberto Gil.

Roraimeira foi o primeiro título de uma música para depois denominar o movimento artícitico-musical roraimense. Eliakin o definiu como um “movimento todo ele pró-índio”. Daí o preconceito que os idealizadores do Roraimeira enfrentaram por parte da elite local. A mesma elite econômica que coloca a culpa do atraso econômico e pelo não desenvolvimento de Roraima nos povos indígenas. A essa justificativa esfarrapada, Eliakim responde: “O atraso e o não desenvolvimento de Roraima é decorrente da corrupção, do desvio de dinheiro público”. Tô contigo e não abro, meu cabôco.

E por pensar assim, as músicas de Eliakim, Neuber e Zeca quase não tocam nas rádios locais. É fácil entender porque: a quase totalidade das emissoras de rádio locais estão nas mãos de políticos e grupos políticos que representam essa elite caquética e corrupta. Uma elite que quer tirar a legitimidade dos povos ancenstrais que ocuparam esse pedaço de Brasil muito antes dela. Mas, mesmo enfrentando o preconceito, o Movimento Roraimeira segue altivo e agora, mais do que nunca, avivado na memória do povo a partir do esplêndido documentário homônimo do cineasta Thiago Bríglia, que a partir de amanhã será exibido em rede nacional pela TV Brasil.

Fonte: www.luizvalerio.com.br

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