terça-feira, 25 de agosto de 2009

POR QUE SARNEY E A INTERNET SÃO INCOMPATÍVEIS?

Luciana Capiberibe

Sarney tem com a internet uma relação diametralmente oposta àquela que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama possui. A eleição de Obama é considerada um fenômeno que ganhou alma a partir da internet, já não se pode dizer o mesmo a respeito da influência da rede mundial de computadores sobre a trajetória do senador José Sarney.

O Senador de diversos mandatos pelo Maranhão e pelo Amapá, cresceu na carreira política durante a ditadura, conquistou nos bastidores do poder benesses incomensuráveis. Sarney é mesmo chegado a uma sombra, não gosta de deixar muito às claras o que faz, os atos secretos são um bem acabado exemplo do tipo de política feito por ele, que se acostumou a jogar com a falta de comunicação entre os rincões brasileiros, responsáveis por lhe dar o poder que ele ostenta, e os grandes centros das decisões políticas e econômicas do país, onde ele costumava até bem pouco tempo, desfilar como arauto da democracia. Enquanto aqui no Amapá e no Maranhão ele jogava pesado, calando inimigos, criando monopólios midiáticos e amealhando o maior número de concessões de rádio e televisão possíveis, para maquiar a falta de realizações de seus mandatos para os estados que o elegiam; no resto do país ele pousava de democrata e cortejava grandes meios de comunicação e seus jornalistas.

O estilo de Sarney é completamente incompatível com a WWW(World Wide Web) conhecida como rede mundial de computadores, a popular internet, porque ela quebra monopólios, sobretudo os ligados ao poder da televisão e dos mídia tradicionais, ao mesmo tempo em que contribui para aproximar as pessoas e diminuir o isolamento das fontes de poder de Sarney dos grandes centros urbanos do país. Com a internet o Maranhão e o Amapá passaram a fazer parte do Brasil. A internet representa um espaço de liberdade, criatividade e democracia, ela tem dificuldade de prosperar onde há ditadura, pois é difícil controlá-la ou limitá-la, só mesmo impedindo o acesso a ela, se pudesse, tenho certeza que Sarney já teria feito isso aqui no Brasil, pois foi através da internet que nasceu e cresceu o movimento de repúdio a ele. Em 2006 aqui no Amapá diversos blogs e sítios foram tirados do ar por ordem da justiça que tentava a todo custo deter os estragos do movimento Xô Sarney, um movimento da sociedade civil, que ganhou o país através da rede mundial de computadores. O símbolo criado pelo chargista Ronaldo Roni foi pintado no muro da casa do fotográfo Mario Filho, uma foto desse símbolo foi parar nos blogs das irmãs Alcinéa e Alcilene Cavalcante e daí ganhou o mundo e atraiu a ira e a censura patrocinada por Sarney que, para variar, usou um advogado pago pelo senado para processar e condenar jornalistas locais. Só que o poder de ‘replicar’, ou seja, reproduzir uma mensagem ou imagem na internet não pode ser detido, assim como não pode ser escondida a repercussão de censurar blogs e sítios de informação, criando um problema terrível para o ex-arauto da democracia, que sofreu os primeiros arranhões em sua biografia.

O resto da história todo mundo já sabe. Sarney resolveu candidatar-se para assumir seu terceiro mandato como Presidente do Senado e pavimentar o retorno da filha ao governo do Maranhão. Em fevereiro deste ano a revista britânica The Economist dizia que a vitória de Sarney para a presidência do Senado era o triunfo do semi-feudalismo. Dessa vez vieram os atos secretos e os arranhões do Xô Sarney transformaram-se em rachaduras na biografia do velho coronel da política brasileira. O movimento Fora Sarney até agora vem crescendo, surfando nas ondas da internet…Microblogs, Twitter, Blogs, são responsáveis por mobilizações que têm atraído jovens de todo o país indignados com os desmandos do velho dinossauro que comanda o Senado.

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