domingo, 27 de dezembro de 2009

CANDIRU AOS PESADELOS AMAZÔNICOS

Márcio Souza (*)

Nesta última coluna do ano vai o resultado de uma enquete que realizei entre meus sete leitores. É que instituímos uma premiação para as ações mais cínicas e deletérias ao interesse público, perpetradas por autoridades e instituições públicas, outorgando cinco troféus. E para homenagearmos a mania regionalista e manter viva a chama do pesadelo amazônico aos folclóricos candirus, peixinho fartos em nossos rios e que têm a mania de se imiscuir sem que sejam chamados nos orifícios mais inconvenientes dos distraídos e incautos.

A entrega dos troféus ocorrerá no dia 6 de janeiro, às 23 horas, na laje da sede da comunidade do Rato Molhado, com direito a churrasco, ponche de biocombustível e muito funk, sob o comando do DJ Metralha. Após agitada sessão de telefonemas, com silêncio promovidos pela OI, ficou decidida a seguinte premiação para 2009:

5° Lugar: Candiru de Estanho: Vai para a Universidade Estadual do Amazonas, que respaldado pela boa legislação do serviço público pagou 900 mil reais para a Faculdade Boas Novas comprar uma biblioteca central. Vale lembrar que nem tudo que é perfeitamente legal é ético e republicano. Burocracia escorreita não explica porque deram dinheiro à "escola"do Silas Câmara e nada fizeram para melhorar as condições da Faculdade de Artes e Turismo, nem atualizaram os acervos das bibliotecas dos diversos cursos, como o da escola Normal Superior, que fica num cubículo e tem um acervo de meter vergonha. É claro que o convênio entre as duas entidades foi feito dentro da mais perfeita legalidade, mas dar dinheiro a uma escola privada e de ensino precário e suspeito, continua sendo altamente comprometedor para quem vai ficar com este ato imoral no currículo.

4° Lugar: Candiru de Bronze: Vai para a AMAZONAS ENERGIA, pelo cinismo populista d tentar enganar alguns idiotas locais distribuindo geladeiras, pensando que com isso consegue desviar a atenção pelos constantes apagões, pela oscilação da voltagem e o serviço indecente que não seria aceito nem pela autoridades do Sudão. Mudaram a razão social, mas a imcompetência e o serviço porco são os mesmos.

3° Lugar: Candiru de Ferro: Vai para o Aeroporto Eduardo Gomes. Aqui a INFRAERO cuida melhor da carga que dos seres humanos. O terminal de passageiros continua com a mesma configuração dos tempos da Zona Franca, ou seja, o despacho das companhias é feito em cubículo exíguo e desconfortável, sem ar condicionado. Não sei que mente perversa mantém este estúpido confinamento, quando os balcões das companhias deveriam estar do lado de fora como em todos os aeroportos civilizados.

2° Lugar: Candiru de Prata: Vai com todo louvor para a agência de publicidade contratada pelo Porto "Verde"das Lajes. A turma é genial e sem nenhum escrúpulo, como pede a boa e velha amoralidade publicitária. Outro dia deram um susto nos amazonenses, ao usarem imagem do Teatro Amazonas. Logo nos veio o temor que planejassem usar o lugar para depósito de container. Mas tudo muito ecológico, muito sustentável, tudo com muita ação compensatória e geração de empregos, é claro!

1° Lugar: Candiru de Ouro: Vai para os renascidos ambientalistas Eduardo Braga e Amazonino Mendes, que em Oslo surfaram na onda do crédito do carbono, recriação compensatória das velhas indulgências plenárias do catolicismo da Idade Média. Naquela época muitos pecadores pagaram fortunas aos cardeais para garantirem um lugar no paraíso. Quem sabe agora alguma fortuna de renitentes poluidores não cai por aqui, também? - É o populismo sustentável preservando o verde dos dólares. Em quanto isso, os piromaníacos de Iranduba fazem a festa.

(*) É manauara, articulista de A Crítica, teatrólogo e um dos escritores renomados do Brasil.

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