sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

OBAMA E LULA, VOZES DISSONANTES NA COP-15

Obama se repete e não diz nada de novo na COP 15. O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, afirmou nesta sexta-feira (18), em Copenhague, onde participa da reunião de cúpula sobre as mudanças climáticas, que os líderes mundiais devem aceitar um acordo global mesmo que imperfeito e que devem começar a atuar imediatamente para conter o aquecimento global.

“Isto não é ficção, isto é ciência. Sem controle, as mudanças climáticas significarão riscos inaceitáveis à nossa segurança, às nossas economias e ao nosso planeta”, afirmou Obama.

Para ele, se um acordo, ainda que não ideal, não for assinado ao final da cúpula na capital dinamarquesa, haverá o risco de que as divisões entre os países aumentem ainda mais e impeçam qualquer acordo futuro.

“Este não é um acordo perfeito, e nenhum país conseguirá tudo o que quer”, afirmou Obama sobre as propostas em discussão no último dia da cúpula. “Mas a questão é se vamos avançar juntos ou se nos separaremos”, disse.

“Aqui está a questão principal: nós podemos aceitar este acordo, dar um passo adiante substancial, e continuar a refiná-lo e a avançar a partir de sua base”, argumentou o presidente americano.

Para Obama, se a cúpula de Copenhague fracassar, após duas semanas de discussões, o resultado será um retrocesso “às mesmas divisões que impediram as ações por anos”.

“Vamos voltar a ter as mesmas discussões mês após mês, ano após ano, enquanto o perigo das mudanças climáticas aumentará até se tornar irreversível”, disse.

Apesar de sua defesa incisiva de um acordo, Obama não ofereceu novos compromissos dos Estados Unidos para cortar emissões, o que é visto pelos países em desenvolvimento como essencial para um acordo.

“Estou confiante de que os Estados Unidos cumprirá com os compromissos que já fizemos: cortar nossas emissões em torno de 17% até 2020 e em mais de 80% até 2050”, disse.
Segundo ele, os Estados Unidos “continuarão com seu caminho de ações independentemente do que aconteça ao final da cúpula de Copenhague”.

Obama pediu ainda que um eventual acordo garanta mecanismos para verificar o cumprimento dos compromissos por cortes.

“Estas medidas deve garantir que um acordo seja crível e que todos cumpram com suas obrigações. Sem isso, qualquer acordo seria apenas palavras vazias”, disse.



Ontem (17), um dia antes da fala de Obama, Lula cobrou responsabilidade de países desenvolvidos. Adotando um tom duro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva discursou na reunião das Nações Unidas sobre mudança climática, defendendo cortes de 40% nas emissões globais até 2020 e afirmando que as negociações "não são um jogo em que se pode esconder as cartas na manga".

Em recado direto aos países desenvolvidos, Lula cobrou que o financiamento para os países pobres deixe de ser "tímida promessa ou miragem" e pediu metas claras de corte de emissões dos países desenvolvidos.

"Podemos ser todos perdedores", alertou o presidente sobre o risco de não se chegar a um acordo em Copenhague.

Além dos cortes de 40% até 2020, Lula defendeu ações imediatas para evitar que o aumento da temperatura global ultrapasse 2ºC.

Lula afirmou ainda, que os países em desenvolvimento também têm responsabilidade de contribuir no combate às mudanças climáticas, desde que auxiliados, mas lembrou que "mesmo na ausência de contribuições", muitos já apresentaram propostas dos países ricos.

A principal mensagem do presidente brasileiro, entretanto, foi dirigida aos líderes dos países industrializados que participaram da conferência em Copenhague.

"Não há lugar para conformismo. É preciso assumir metas à altura da responsabilidade histórica e da ameaça que a mudança climática representa", disse Lula.

"A convenção (do clima) estabelece a obrigação de apoio financeiro e tecnológico."

O líder destacou a fragilidade dos países pobres "que já sentem os efeitos da mudança do clima" e aproveitou para defender a manutenção do Protocolo de Kyoto, que vence em 2012, mas cuja extensão está sendo negociada em Copenhague.

"(Ele) não pode ser substituído por instrumentos menos exigentes", afirmou Lula.

Diante da plenária, Lula listou as ações de seu governo no combate à mudança do clima, entre elas, a recente aprovação no Congresso da lei que prevê a redução das emissões do país entre 36,1% e 38,9% até 2020.

"Isso custará ao país US$ 16 bilhões por ano", disse. "Não é uma proposta para barganhar. É um compromisso.”

Em seu discurso, Lula defendeu praticamente todas as questões que o Brasil vem negociando na reunião. Entre elas, o uso limitado de mecanismos de mercado para financiar ações de combate ao clima.

O Brasil resiste a um uso mais amplo de créditos de carbono para pagar ações como Redd (redução de emissões por desmatamento e degradação) e outros.

Lula encontrou-se com os presidentes da França, Nicolas Sarkozy, e da Etiópia, Meles Zenawi, antes de participar de um jantar oferecido para os dignatários pela rainha da Dinamarca, Margareth 2ª.

Hoje, sexta-feira, depois de muitas falas e articulações, Lula e os presidentes de cerca de 120 países, entre eles, o americano Barack Obama, devem assinar um acordo resultante do encontro de Copenhague.

Fonte: BBC Brasil

Nenhum comentário: