quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

O ENCONTRO DAS ÁGUAS E DAS RELIGIÕES

Luciney Araújo (1), Camila Nakaharada(2) e Larrissa Nascimento (3)

Ogãs, Ekedes, Macotas, Sacerdotes , Sacerdotizas e simpatizantes do Candomblé, Umbanda e Tambor de Mina celebraram no dia 08 de dezembro, o Balaio de Oxum, as homenagens a rainha das águas doces teve inicio no terreiro de Mãe Lucimar, na Praça 14 de Janeiro, um dos mais antigos e tradicionais da Cidade. Em seguida seguiu em cortejo para a Praça do Congresso, onde com muita alegria o povo do santo desceu em procissão até a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, para juntamente com a comunidade católica prestar homenagem a Padroeira do Estado do Amazonas.
A igreja estava completamente lotada, quando o povo do santo entrou em procissão carregando na berlinda uma das primeiras imagens de Nossa Senhora da Conceição, entoando o hino da santa, o povo do santo seguiu até o altar central da igreja, onde prestou homenagens a Nossa Senhora, sendo recebida pelo bispo auxiliar de Manaus Dom Sebastião, que fez questão de lembrar da importância de se homenagear Nossa Senhora, não importando a crença.

Após as homenagens feitas na Catedral, o cortejo seguiu em carreata até o Porto do São Raimundo de onde seguiria até o encontro das águas, local escolhido para se fazer a entrega dos presentes a Oxum. Durante o trajeto a tradicional roda de candomblé foi formada, onde se prestou homenagens a diversas nações de como o Jeje, o Angola e o Ketu, reafirmando a união dos povos e das religiões de matriz africana.

O Balaio de Oxum é uma das mais importantes cerimônias do Candomblé, pois presta homenagem a Oxum, rainha das águas doces, da beleza, e tem nesse orixá a crença de que é dela a força em que movimenta os rios. Segundo a Mitologia Nagô, Oxum é uma das mais importantes do Panteão dos Orixás, como Rainha da Beleza, tendo como uma de suas características ser doce e sedutora, tanto que é dela a missão dada por Orulum de religar Orum (Céu) e o Aiê (Terra) e é consideradas por muitos religiosos como a precursora do Candomblé. Oxum é sincretizada com Nossa Senhora da Conceição, durante o período da escravidão contribuiu para a preservação de seu culto.

Considerado como um dos maiores patrimônios do Amazonas, o encontro das águas foi o lugar escolhido para entrega do Balaio de Oxum. Cantigas, rezas, danças e manifestações de fé foram demonstrado durante a entrega dos presentes a Dona das Águas Doces. Sabonetes, flores, champanhe, espelhos, dentre outros foram arremessados nas águas em forma de agradecimento pelas graças alcançadas.

Durante a viagem aconteceu a conhecida virada de tambor, onde entidades da Encantaria foram homenageados, através das fortes batidas do tambor, encantados como Seu Marinheiro, Seu Sibamba, a Encantada Mariana dançaram e cantaram, e cumprimentavam a cada um dos que estavam presente na cerimônia desejando axé nas futuras caminhadas. O encerramento das homenagens a Oxum aconteceu no Terreiro de Mãe Carminha, no bairro de São Francisco, local onde se teria um prolongamento do batuque realizado nas águas do Rio Negro.

A Cerimônia de Entrega do Balaio de Oxum está se tornando um evento tradicional na Cidade de Manaus, em seu quinto ano consecutivo, mostra que é possível se viver em paz respeitando os filhos de diferentes credos. Assim como o tradicional festejo de São Sebastião, o Balaio de Oxum adentra as Igrejas Católicas, em uma manifestação de fé e agradecimento por graças obtidas.

A proposta de respeito a diversidade religiosa manifestada pelo Bispo Auxiliar de Manaus Dom Sebastião, em pregar a paz e a perseverança entre as diversas manifestações de fé contribuem cada vez para a fraternidade entre as mais diferentes religiões.

(1)É Cientista Social e Pesquisador NCPAM; (2)É estudante de Biologia da UNESP e Colaboradora do NCPAM e (3)É estudante de Ciências Sociais e Pesquisadora do NCPAM

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