quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O GOVERNADOR CARTESIANO QUE SE DIZ AMBIENTALISTA

De vez em quando os cidadãos mais atentos são tomados de assalto por alguma declaração de políticos mandatários, tentando explicar sua prática ou definir sua postura ideológica frente a determinada situação. Recentemente, em entrevista a rádio CBN Manaus, o governador do Amazonas, Eduardo Braga (PMDB), falando sobre sua prática ambientalista no fórum das nações em Copenhague, entre outros assuntos, se definiu filosoficamente como um cartesiano.

Com certeza, o lider do governo na Assembléia Legislativa do Amazonas, o deputado Sinésio Campos (PT), que tem formação em filosofia deve ter parado para decifrar esse paradoxo, tentando compreender o que de fato Eduardo Braga queria que o povo entendesse.

Em auxílio ao lider do governo saímos também em busca "das idéias claras e distintas", como bem gostaria que fosse René Descartes (1596/1650), para decodificar o discurso do governador, que lá fora se diz ambientalista e por essas barrancas do rio Negro afirmar ser cartesiano.

Inicialmente, recorremos ao Aurélio, o chamado "pai dos burros" para explicar o conceito e suas determinações. Assim sendo, segundo o dicionário clássico da língua portuguesa falada no Brasil, "diz-se da maneira de considerar um fenômeno ou um conceito isolando da totalidade em que aparece" e "afeito a idéias claras e procedimentos rigorosos".

No campo da filosofia, o cartesianismo é um movimento filosófico cuja origem é o pensamento do francês René Descartes. Para o historiador da filosofia, Bertrand Russell, Descartes é considerado o fundador da filosofia moderna e pai da matemática.

O método cartesiano, segundo Russel, põe em dúvida tanto o mundo das coisas sensíveis quanto o das inteligíveis, ou seja, duvidar de tudo, As coisas só podem ser apreendidas por meio das sensações ou do conhecimento intelectual. A evidência da própria existência – o "penso, logo existo" – traz uma primeira certeza. A razão seria a única coisa verdadeira da qual se deve partir para alcançar o conhecimento. Diz Descartes "Eu sou uma coisa que pensa, e só do meu pensamento posso ter certeza ou intuição imediata".

Tudo bem, em foco a questão metodológica sob o imperativa da racionalidade. Contudo, a discussão pauta-se no antagonismo de uma prática ambientalista, que por sua vez, fundamenta-se no método da transversalidade, interagindo com vários campos do saber e da ciência, buscando a construção da totalidade, que se conecta na compreensão da rede constituída dos ecossistemas expressos da diversidade ambientais.

Essa prática metodológica dialética promovida pelo movimento ambientalista responsável jamais se ajusta a uma lógica cartesiana, que por sua vez, é reducionista e antropocêntrica, desqualificando o Outro em si e sua relação com o Meio. No entanto, ajusta-se muito bem a uma prática governamental privatista, ávida de lucrar, capaz de depredar os recursos naturais em nome da racionalidade cumulativa do capital, opondo-se diretamente a qualidade de vida e o equilíbrio com a natureza, o que justifica a exploração do trabalho alienado e a dominação política dessa gente.

Desse modo, pode-se afirmar que a única certeza que persegue o governador do Amazonas é o continuísmo político, valendo das estratégias licitatórias para perpetuar-se no poder de Estado, em benefícios dos privilégios da corte. E, portanto, sua "intuição imediata" é que o meio ambiente, é uma boa sacada para captação de recursos internacionais em favor da Fundação Amazônia Sustentável escudada na tese da floresta em pé. E assim, as comunidades tradicionais do Amazonas transformam-se apenas num detalhe para o governante cartesiano.

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