domingo, 20 de dezembro de 2009

ESTRUTURA FAMILIAR E O NOVA ARRANJO SOCIAL

O psicanalista belga Jean-Pierre Lebrun, estudioso das relações familiares, recentemente esteve no Brasil para participar do 3o Encontro Franco-Brasileiro de Psicanálise e Direito, quando foi entrevistado por Ronaldo Soares para revista Veja (9/12), pontuando questões importantes referente à estrutura familiar quanto às práticas pedagógicas, a autoridade dos pais nesse novo contexto, a transformação do homem através do processo de humanização e o comportamento dos pais em relação às drogas.

Nos últimos vinte anos a estrutura familiar passou por transformações radicais. Abrem-se espaços cada vez mais de gênero e as discussões ficam mais calorosas quando se fala de organização famíliar. A autoridade dos pais modifica-se para uma estrutura em forma de rede que segundo Lebrun: “é uma conseqüência desse novo arranjo social, em que os papéis estão organizados de forma mais horizontal”. Isso não significa que os pais perderam respeito e autoridade em virtude dessa nova organização, mas conforme ele nos explica: " não é necessariamente algo negativo, desde que fique claro que, depois de negociar, discutir, trocar idéias, quem decide são os pais”, na perspectiva de se estabelecer limites.

Quando perguntado se existe fórmula para evitar que os filhos sigam por um caminho errado, o psicanalista esclareceu que: "é preciso ensiná-los a falhar. Uma coisa certa na vida é que as crianças vão falhar, não há como ser diferente. Quando os pais, a família e a sociedade dizem o tempo todo que é preciso conseguir, conseguir, conseguir, massacram os filhos [... ]. Aprender a lidar com o fracasso evita que ele se torne algo destrutivo".

A seguir pela vida, os pais devem sim, ensinar a seus filhos a administrar situação dessa natureza. Sabendo que nem sempre teremos o paraíso a nossa disposição e tem mais, quando aprendemos a lhe dar com o fracasso nos tornamos mais humano e sociável, no entanto quando os pais boicotam esse processo, alguns jovens tendem a buscar nas drogas alívio para qualquer tipo de dor.

Assim, explica Lebrun: “É mais fácil tomar, por exemplo, Ritalina para hiperatividade, do que fazer todo um trabalho de aprender a suportar a condição humana”. O processo em questão é movido também pelo consumismo desenfreado incentivado pelo poder da mídia, em virtude da mola propulsora da indústria de produzir cada vez mais. Se há necessidades por satisfazer, há produção em escala. E quanto mais necessidades, mais produção, num efeito de escala exponencial, que atinge através da globalização, o mundo.

Infelizmente as drogas, ainda apresentam-se como um paraíso para fugitivos químicos, que apesar das especificidades de cada caso, segundo Lebrun, “ vêem nisso certo caráter transgressivo, todas as condições estão dadas para que eles recorram às drogas”, ele acredita que é dentro da própria família que o viciado vai conseguir o caminho para sair das drogas. Ora, ficando na contra mão do direito democrático de opinião quanto aos casos de internação. Mas em detrimento das especificidades, e das estruturas familiares, o doente precisa incutir “a verdadeira condição humana”, e isto só acontece em ambiente familiar.

O fato é que, a psiquiatria e as demais ciências não são universais,"é preciso trabalhar sempre caso a caso. Mas eu não diria nunca que um viciado em droga é irrecuperável. Existem outros elementos em jogo que precisam ser considerados. Não há dependência química que não seja fruto de uma interação malsucedida entre o contexto social em que o indivíduo está inserido e o seu trajeto singular desde a infância", arremata Lebrun.

Finalmente, o estudioso do comportamento, Jean-Pierre Lebrun, encerra sua entrevista fundamentando sua exposição na estreira relação instituída entre natureza e cultura, desafiando os homens a intensificaram cada vez mais seu processo de humanização porque, explica: "um tigre será sempre tigre. Um humano, no entanto, precisa se tornar plenamente humano. É uma enorme diferença".

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