quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

A PRÁTICA DO SKATE COMO INCLUSÃO SOCIAL

Juliana Sarmento*

Nos dias 19 e 20 de dezembro, ocorrera a 3ª Etapa Pró-menor Dom Bosco Skateboard Amazonense, na Skate Park Ponta Negra, localizada na zona oeste de Manaus, no bairro Ponta Negra. As duas primeiras etapas ocorreram no Pró-Menor Dom Bosco, localizado no bairro Alvorada. Com as modalidades Iniciante, Feminino, Amador I e II. Organizado por Ney Metal e Erick Dammon, com apoio principal das marcas Urbanu Skateboard, SFN (Skate Forte do Norte), entre outras. Junto ao evento fora realizada a premiação dos Melhores Atletas do Ano, Prêmio Amazonas Olímpico 2009, pela Secretaria de Estado da Juventude, Esporte e Lazer -SEJEL.

O campeonato teve o intuito principal em, organizar as modalidades, em face à dificuldade que se encontra em promover um campeonato de skate em Manaus, e em todo o estado do Amazonas.
A pequena disponibilidade em questão aos apoios e patrocínios para que os mesmos sejam realizados é em suma, uma questão crucial. Pois, a demanda é muita e o investimento é pouco.

A prática do skate atualmente é vista por dois ângulos, positivo e negativo, sendo o primeiro uma fonte de lazer, e até mesmo profissional, porém a que ainda prevalece é a negativa, dando um ar marginalizado aos praticantes do esporte.

Vivemos numa sociedade extremamente paradoxal, onde os avanços sociais e científicos convivem lado a lado aos degradantes impasses sociais, como a miséria, a fome, o desemprego, e em principal a falta de disponibilidade educacional. A cultura é deixada de lado para dar lugar aos novos meios impessoais de conivência, fazendo então com que as idéias sejam construídas através de um senso comum. Onde não busquemos a verdadeira essência dos valores sociais, mas sim um padrão de vida ideal caracterizado pelo consumismo imposto pelo mercado.

O fato que o skate seja imediatamente ligado a uma cultura periférica, inibe a sociedade em adotar o esporte como algo produtivo, e a algo que gere lucros aos interessados. Em meio ao crescimento de praticantes e ao aumento da demanda em produtos relacionados ao esporte a sociedade econômica vem abrindo espaço ao skate de forma cautelosa e cooperativa.

Porém, a maior capacitação do esporte não se encontra nas proximidades do Norte do Brasil, mas sim, nas regiões Sul/Sudeste e frente aos países mais desenvolvidos que oferecem um espaço mais abrangente ao esporte. Surge então a dificuldade em promover os eventos em Manaus.

Os campeonatos na maioria das vezes acontecem por iniciativa dos próprios praticantes, buscando apoio em marcas e lojas direcionadas ao esporte, e até mesmo arcando com os gastos do evento. É necessária a participação da construção cultural junto ao skate para que haja uma visibilidade e oportunidade maior ao mesmo, para que não passe a ser visto somente como um lazer, mas também como um forte aliado na cultura social do país, sendo também forte aliado na luta pela aceitação da mulher junto à prática do esporte que até os dias atuais a discriminação social por sexo ainda nos assombra.

A inclusão do papel social da mulher e o direito em usufruir de suas escolhas nos ajudarão formar novos cidadãos. Não só o papel da mulher, mas de qualquer indivíduo, que como ser humano e ser vivo tem direito a respeito e dignidade.

Atualmente o skate amazonense e brasileiro, sofre uma possível ameaça de perda de uma das melhores pistas de skate públicas no país. A Skate Park Ponta Negra pode ser demolida para que haja uma restauração na infra-estrutura da área turística da Ponta Negra.

Esse é mais um meio para que os praticantes e simpatizantes do esporte se conscientizem e lutem para que não se perca um patrimônio tão rico não só na estrutura, mas também na paisagem porque por trás da pista temos o Rio Negro e toda sua beleza da flora e fauna, proporcionando um elementar conforto aos praticantes e visitantes do local. É hora de se definir políticas públicas que assegurem aos jovens (homens e mulheres) o acesso ao esporte. Não deixemos que acabe a vida, não deixemos que a união do esporte seja desfeita por interesses particulares e indivuduais.

Foto: Iggor Lopes

* É acadêmcia de Ciências Sociais da UFAM, desportista e pesquisadora do NCPAM.

8 comentários:

Raphael disse...

Muito bom esse artigo. A dificuldade sempre existiu e existirá,não importa onde, ou quando, temos que nos esforçar para conseguir seguir em frente com nossos ideais. Gostei do blog e muito mesmo desta informação. Skate é vida.

Henrique Lima disse...

Belo texto!!!
e as imagens também estão muito boas.
O blog é bem informativo, visitarei sempre.

tontongda disse...

Muito bem introduzido seu artigo...
Acredito que toda conscientização começa de dentro pra fora e não de fora pra dentro...TEmos ótimos skatistas no brasil inteiro, mas temos uma grande maioria que valoriza apenas aquilo que cabe a eles...quando parte pra algo maior como dito no artigo, parece que não estão envolvidos...Realmente tem de haver uma conscientização em todo o conjunto público,tanto os simpatizantes, quanto os que discriminam o esporte para que vejam quão diferente é, de dentro para fora.
A partir do momento em que as pessoas que estão de fora, tiverem a perspectiva de quem está dentro, entenderão, que não é só mais um "passatempo" e sim, um algo maior que muitos querem seguir como carreira.
Quanto a discriminação no âmbito sexo em questão,as mulheres vem se destacando em muitas áreas esportivas e, não que deixarão baixo no skate em si. Que vocês não se sintam inferiores aos homens , mas se vejam como igual nesse esporte que cresce, tem crescido e continuará crescendo, no brasil e no mundo.
Torço para que a política amazonense veja quão patética poderia ser a atitude de retirar tamanha beleza natural para visitantes e também para aqueles que estão usufruindo a maior da estrutura...

God bless ya

Power Skater's

Anônimo disse...

Infelizmente vivemos isso, e muito mais, nosso cotidiano e ilustrado pelas imagem do passado que nos assombra, então nos resta escrever sobre isso e protestar, com um texto muito bom nossa amiga, e parceira do esporte passa a mensagem para todos!

obrigado pela atenção!

Greg Lee - Ciência da Computação - Unip (skatista - 10 anos)

Unknown disse...

O skate, pelas mentes pequenas, é logo associado apenas à rebeldia e à inconsequência dos jovens. Mas já é tempo disso mudar.
É de fundamental importância que a sociedade abre seus olhos para esse esporte, pois além de suas manobras serem de uma beleza incrível, também tem ajudado muitas pessoas a terem uma vida melhor, mais completa. Como qualquer outro esporte, incentiva seus praticantes e levarem uma vida saudável e longe de confusão.
Acho o título muitíssimo bem escolhido.
Atualmente, na região sul, o esporte tem crescido, e seus campeonatos já são exibidos em grandes emissoras nacionais, há mais visibilidade para os praticantes. Não seria ótimo se aqui também fosse assim? Sim, seria. Mas fica difícil disso acontecer se destruírem uma das poucas pistas que nossa cidade possui para praticar. Bom que existam pessoas para chamar nossa atenção esses fatos.

Bom artigo.

Unknown disse...

Gostaria de parabenizar a Juliana pelo ótimo artigo.

Sou praticante do skateboard de longa data, e sempre acompanhei essa discriminação que caminha lado a lado com o skate.
E pelo que pude perceber, esta dircriminação só reduz quando atitudes inteligentes partem dos seus praticantes. O problema tá ai a muito tempo, cabe a nós skatistas mostrarmos o que queremos. Termos atitudes e ideais, e não só reclamar, mas por em prática as atitudes e os ideais e fazer acontecer.

Seria péssimo a perda da Skatepark da Ponta Negra, que já foi sede de vários eventos como esta terceira etapa do Pró-menos e etapa do circuito profissional brasileiro.
Uma maior mobilização dos skatistas seria imprecindivel pela luta do espaço conquistado com tanto esforço.

Jorge Souza;
é carioca, mas mora em Manaus a 6 anos, tem muitos anos de skate.
Atualmente é pesquisador do Laboratório de de Ecologia de insetos - INPA - Manaus.

gade disse...

congratulations....
excelente tema. e vendo alguem que sabe do que ta falando é mais aceitavel, quem vive o esporte e sabe das dificuldades, torna mais crivel o discurso, a juliana preenche esses requisitos. essa luta inda vai muuito longe viu juh? mas tamos aqui pra engrossar o coro, somar na torcida e brigar tbm..
bju
e meus parabens

ulysses disse...

Muito bom o texto. O skate amazonense precisa de pessoas que possam escrever sua história.


Bomskatepratodos!!!!