TRÊS REIS

Gilson Gil*

Já falei, em outras ocasiões, sobre a influência da política sobre o cotidiano e as complicações ou facilitações que escolhas eleitorais boas ou ruins podem trazer à população. Inclusive, semana passada, argumentei que grande parte das culpas pode e deve ser atribuída ao próprio eleitor, que sabe dos malefícios que certos votos podem trazer, mas, mesmo assim, insistem em votar, pelas mais diversas razões, naqueles políticos de “ficha suja”.

Outra confusão causada pela política surgiu esta semana. Manaus, por alguns dias, teve 3 prefeitos. Primeiro, o eleito, que viajou “quase” sem autorização da CMM, para a Dinamarca, num verdadeiro “deslize” legal. Depois, o vice-prefeito, que passou a governar de dentro da cadeia, pois havia sido preso, mas, segundo palavras do próprio, repetidas nos jornais, “seus direitos políticos não haviam sido cassados e ele iria administrar de dentro do presídio”.

Finalmente, o presidente do Legislativo municipal, que se autonomeou prefeito em exercício e começou a fiscalizar obras no momento seguinte à prisão do vice.

E a confusão se arrastou, com “consultores jurídicos” dando ”abalizados” palpites diariamente sobre a legalidade disto e daquilo. Porém, sem entrar em méritos legais, retorno ao ponto de outros artigos: a esfera política é vital para o andamento institucional e organizacional de uma sociedade. Assim, as escolhas eleitorais precisam ser mais valorizadas e suas consequências bem pesadas. Interesses financeiros imediatos podem gerar lucros rápidos, seja para fornecedores ou para anônimos, que desejam “apenas” empregos ou bolsas de seus “padrinhos”.

Imagino como o funcionalismo público municipal deve ficar diante de 3 prefeitos. Como se comportar? Em quem acreditar? Qual ordem acatar? Parece insignificante, mas há salários a pagar, obras a entregar, fornecedores que precisam receber etc. Como fazer tudo isso, tendo 3 prefeitos “em exercício”, sendo um na cadeia e outro na Escandinávia?! E a CMM? Mais do que nunca ela precisa mostrar autonomia e segurança, o que é difícil, quando se vê como, nos últimos anos, ela tem se comportado apenas como uma “carimbadora” das ordens do Executivo.

O que a “base” chapa branca irá fazer? Ou ela servirá somente para brecar possíveis pedidos de impeachment do vice? E pelo lado propositivo? O que ela está fazendo para reduzir os danos dessa confusão ao cidadão? Enfim, são dúvidas para animar o natal dos políticos de Manaus e fazer o eleitor pensar sobre o que faz na urna...

(*) É Professor do Departamento de Ciências Sociais da UFAM.