sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

OS TERREIROS DE RORAIMA

Luciney Araújo (*)

O trabalho de conclusão de Bacharelado em Ciências Sociais, O Mapeamento dos Terreiros de Matrizes Africanas em Boa Vista , de Günter Bayerl Padilha, defendido no ano de 2008 na Universidade Federal de Roraima, aborda um tema bastante obscuro e ao mesmo tempo fascinante, Günter Padilha mergulha no universo do misticismo afro-religioso, apresentando como que de forma pioneira o mapeamento e a classificação das casas de candomblés e umbanda na Cidade de Boa Vista-RR.

Como toda pesquisa com temática africana, a escassez de referenciais bibliográficos e dados inconsistentes sobre africanos na região norte durante todo período colonial e a inquietação provocada de que a Região Norte era habitada somente por populações indígenas foram alguns tópicos que levaram o autor a buscar dados sobre as comunidades negras. Um dos pontos identificados durante o campo da pesquisa foi a forte migração ocorrida durante as décadas de 1980 e 1990, contribuíram para o surgimento e a preservação desses cultos em Boa Vista.

Sua pesquisa iniciada no ano de 2006, contou com incursões pelos bairros da cidade, e fora motivada por dados apresentados no Censo do IBGE em que cerca de 7.054 pessoas se denominavam como negras e deste universo cerca de 66 pessoas declaram junto ao IBGE que tinham como religião o Candomblé, levou o pesquisador com um faro antropológico mapear 21 terreiros e/ou pontos de cultos afros na Cidade de Boa Vista.

A miopia em que a antropologia e história configurada na apresentação de dados sobre as religiões de Matriz africana no Estado de Roraima, assim como em outras partes da Amazônia, começara a ter foco de visibilidade, pois a partir desses dados, Günter Padilha, tem como objetivo central de sua pesquisa, apresentar ao leitor as casas de Candomblé e Umbanda em Boa Vista, buscando suas origens e rastreando principalmente o local oriundo desses chefes de Culto.

A premissa inicial da pesquisa era a existência das conhecidas Bandeiras de Tempo, (uma bandeira branca hasteada em bambu) na qual demarcavam a existência de um axé. O primeiro traço foi apresentado no Bairro de São Vicente, em uma casa de culto de Nação Angola e que tem como Tatá de Inkisse Tatá Boculê, cujo suas raízes de parentesco se encontram na Cidade de Manaus, sendo filho de Tatá Mutalambô (Wilson Falcão Real – Fundador da Nação Angola no Amazonas).

Tatá Boculê foi peça chave na construção da pesquisa, pois além de objeto de estudo foi o principal informante de Günter Padilha, pois seus contatos contribuíram para que o leque de terreiros fosse mapeados, e contribuiu para além do objetivo central da pesquisa, pois além das casas, o pesquisador obteve dados como origem dos Sacerdotes e Sacerdotisas e aos calendários litúrgicos das casas.

Durante sua incursão a campo, foi observada a presença de bandeiras de cores verde, amarela e vermelha que assim como as bandeiras brancas, representavam assentamentos de caboclos e de casas de cultos de Umbanda.

Ao fazer uma descrição densa sobre as casas de culto, foi tomado o cuidado em descrever os detalhes existentes nas Casas, identificando ao leitor todos os assentamentos sagrados e seus significados litúrgicos, identificando ainda cada Orixá, Vodum, Inkisse, Caboclos e Encantados que são cultuados em cada uma dessas Casas. Predominando acima de tudo uma supervalorização dos símbolos sagrados e de ícones religiosos tanto católicos, indígenas e africanos

Das 21 casas de cultos visitadas pelo pesquisador, os dados apresentados indicam que cerca de 71% dessas casas tem a Umbanda como seu principal culto e cerca 29% tem o candomblé como principal culto de matriz africano. Outro dado pertinente apresentado é quanto a origem dos dirigentes dessas casas, o pesquisador identificou que nas casas de culto africano de Boa Vista 52% dos Sacerdotes e Sacerdotisas são maranhenses e 48% são oriundos de Estados como o Amazonas e outros Estados do Brasil. Dados apresentados nesta pesquisa apontam que apenas Mãe Silvia como única iniciada no Estado de Roraima.

Dentre outros dados apresentados durante a Pesquisa, observou-se que os cultos africanos no Estado têm cerca de 20 anos, possuindo uma Associação e uma Federação de Culto no Estado que é responsável por políticas publicas junto às comunidades e terreiros afros no Estado de Roraima.

A pesquisa de Günter Padilha vem para mostrar que a existência de Casas de Cultos Afros em Roraima, na contramão de que se ensina a história, demonstra que cultos de matrizes africanas no Estado são frutos não apenas de uma diáspora africana datada do século XVIII, mas de uma migração ocorrida durante o apogeu do ouro e de novas fronteiras no extremo norte do Brasil

Bibliográfica Consultada:

PADILHA, Günter Bayerl: “Mapeamento dos Terreiros de Matrizes Africanas em Boa Vista”. 2008. 76 f. Monografia (Graduação em Ciências Sociais – Bacharelado em Antropologia) – Universidade Federal de Roraima.

* É Cientista Social, Colaborador do NCPAM e autor da foto em tela.

6 comentários:

Dedé de Ogum e Xando disse...

Bom dia! Muito me interessa temas sobre multiculturais. Realmente não tinha informações sobre a existência da religião afro em Boa Vista, isto me surpreendia, pois muitos imigrantes que para cá se dirigiram vinham de locais, PARA e MARANHÃO, sabidamente conhecido como espaços onde a cultura afro e suas religiões tiveram elevada importância na formação social. Deixo apenas uma fica: como fazer para localizar estes centros culturais em Boa Vista?

Unknown disse...

Tbm gostaria de sabee

Unknown disse...

Me dar o seu número de contato por favor

Anônimo disse...

Onde fica

Anônimo disse...

Onde fica

Anônimo disse...

Bom dia. Trabalho na Fundação Cultural AfroAmericana. Gostaria de informação da localização destes pontos culturais de Boa Vista.